ATA DA DÉCIMA SEGUNDA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 14.05.1987.

 


Aos quatorze dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Segunda Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada a homenagear o sexagésimo aniversário da Viação Aérea Rio-Grandense - VARIG. Às dezesseis horas e quarenta e cinco minutos, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancadas a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Brochado da Rocha, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Glênio Peres, Vice-Prefeito Municipal e, neste ato, representando o Sr. Prefeito Alceu Collares; Dr. Adão Dornelles Faraco, Secretário de Estado dos Transportes, representando, neste ato, o Sr. Governador do Estado Pedro Simon; Engº Carlos Willy Engels, Diretor Regional da VARIG S.A.; Procurador Dr. Venâncio Aires de Mesquita, representando, neste ato, o Dr. José Sanfelice Neto, Procurador Geral da Justiça no Estado do RS; Coronel Luís Ricardo Caldas dos Santos, Comandante da Base Aérea de Canoas; Dr. Mayer Avruch, representando, neste ato, o Secretário de Estado de Coordenação e Planejamento, Sr. Cláudio Francisco Accurso; Engenheiro Fernando Cavalcanti Bizarro, Diretor do Departamento Aeroviário do Estado; Professor Luiz Osvaldo Leite; representando, neste ato, o Sr. Reitor da UFRGS Francisco Ferraz; Verª Gladis Mantelli, 1ª Secretária do Legislativo. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à homenagem e informou que haveria apresentação do Coral Ícaro, da Fundação Rubem Berta. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos oradores que falariam em nome da Casa. O Ver. Hermes Dutra, na condição de proponente da presente homenagem e em nome das Bancadas do PDS, PDT, PFL e do Ver. Independente Jorge Goularte, fez um breve relato da fundação da VARIG há 60 anos passados, comentando o inusitado do fato para a época. Ressaltou a importância dessa Companhia para o Rio Grande do Sul e, citando as palavras de seu fundador, Sr. Otto Mayer, disse que "a VARIG foi feita para servir". Também prestou homenagem ao Sr. Rubem Berta, importante personalidade daquela Companhia. O Ver. Nilton comin, em nome das Bancadas do PMDB, PCB e do PSB, leu reportagem feita por ocasião da primeira viagem do hidroavião Atlântico à Cidade de Pelotas, em nosso Estado, e que fora fretado pelo Esporte Clube São José para apresentação naquele local, discorrendo a respeito. Ao Final, congratulou-se com a VARIG, entregando ao Engº Carlos Willy Engels, Diretor Regional daquela Companhia, uma flâmula do Esporte Clube São José. A seguir o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Sr. Adão Faraco, representante, neste ato, do Sr. Governador do Estado, o qual destacou a relevância dos serviços prestados à comunidade pela VARIG e a importância social do grande número de empregos gerados por esta Companhia. Em continuidade o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Engº Carlos Willy Engels que, em nome da Diretoria da VARIG, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em prosseguimento o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à Solenidade, recebendo, na ocasião, um mimo entregue pelo Sr. Diretor Regional da VARIG. Após, houve nova apresentação do Coral Ícaro. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente agradeceu a presença de todos, convidou os presentes a passarem à Sala da Presidência, convocou os senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental e levantou os trabalhos às dezessete horas e cinqüenta minutos. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Brochado da Rocha e secretariados pela Verª Gladis Mantelli. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Primeiramente, ouviremos uma apresentação do Coral Ícaro, mantido pela Fundação Rubem Berta.

 

(O Coral faz sua apresentação.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra, que falará em nome das Bancadas do PDS, PDT, PFL e pelo Vereador Independente Jorge Goularte.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais componentes da Mesa. Se alguém viesse, nos dias de hoje, nos oferecer ações de uma empresa que iria explorar o transporte de passageiros entre os Planetas Marte e Vênus, por certo não encontraria guarida. Dificilmente, colocaria alguma ação, e o mais que conseguiria seria, certamente, um sorriso de comiseração, ou, talvez, uma palmadinha nas costas, mais como forma de nos livrarmos deste inoportuno do que, propriamente, por qualquer apoio às suas pretensões. Pois foi, certamente, este clima que alguns gaúchos viram em 1927: um alemão recém chegado ao Estado convencê-los de que era importante a compra de ações para a constituição de uma empresa aérea destinada a transportar passageiros no Rio Grande do Sul. Pois ele conseguiu. Com a força de sua argumentação, amealhou 550 acionistas. Isso representava, em relação à população da época, 2,45% dos habitantes da Cidade. Equivaleria, hoje, ao nosso suposto vendedor de ações de uma linha interplanetária conseguir convencer algo em torno de 32.500 porto-alegrenses. Esse simples dado mostra a força de convencimento de Otto Ernest Meyer, o idealizador e fundador da VARIG. Esse desprendimento de seu fundador interou-se à sua empresa e hoje, passados 60 anos, a VARIG continua com sua mesma filosofia definida por Meyer no longínquo 1927. "A VARIG foi criada para servir. Ela tomará parte em todos os progressos na estrada ao grande futuro do País, nas recompensas alcançadas, levando com dignidade o Pavilhão Nacional para muito além de nossas fronteiras. Tenho inteira convicção de que a VARIG, graças ao alto espírito de responsabilidade do seu elemento humano, saberá caminhar sempre pela trilha do progresso".

Tinha razão Otto Meyer. Do seu sonho materializado, hoje vivem, galhardamente, mais de 30 mil funcionários, espalhados por 22 empresas, que vão da empresa aérea até a locação de automóveis, passando por hotelaria e turismo, agropecuária, serviços auxiliares, propaganda, editora, locação de imóveis, financeira, serviços de comissária e corretora de valores. Com faturamento, em 1985, de aproximadamente um bilhão e meio de dólares, a VARIG arrecadou para o Governo, entre impostos e encargos, perto de três bilhões de cruzados. A sua política social é reconhecida em todo o País, executada através da Fundação Rubem Berta, hoje controladora da empresa.

A Fundação, idealizada por Rubem Berta, presta serviços, os mais diversos, aos funcionários do grupo, desde o pagamento de serviço médico, odontológico, hospitalar, e ainda paga 50% do valor dos medicamentos que seus empregados necessitem e que são vendidos em farmácias do próprio grupo. Alimentos subsidiados, lazer e esporte, alem de empréstimos a juros subsidiados a seus empregados, também são fornecidos pela Fundação.

A VARIG, como empresa num mercado altamente competitivo e de profundas e rápidas mudanças tecnológicas, soube se impor, sendo hoje considerada, sem favor nenhum, como uma das melhores e mais eficientes empresas de serviço aéreo no mundo inteiro. Não foi fácil, certamente, atingir esse desiderato. Do hidroavião Atlântico, adquirido em 1927, aos modernos e majestosos Boeing 747 - 300 B, a VARIG percorreu um grande caminho. Os desafios foram sendo vencidos, um a um, sempre com a mesma disposição do fundador.

Os acionistas de hoje possuem a mesma satisfação pelo desempenho da empresa que, certamente, tiveram o Major Alberto Bins, José Bertaso, Charles Fraeb, Arthur Bromberg, Rodolpho Ahrons, Adroaldo Mesquita da Costa, Emilio Gertum, Waldemar Bromberg, Jorge Pfeiffer e Ernesto Rotermund, que se tornaram os primeiros incorporadores da nova empresa. Aliás, esses nomes mostram que, se coletivamente muito contribuíram para as bases da VARIG, individualmente podemos testemunhar hoje que cada um deles deixou uma indelével marca de realização pessoal nos mais diversos setores da vida rio-grandense, de uma forma geral, e porto-alegrense de uma forma particular.

Mas não se pode falar da VARIG, nos seus idealizados e construtores, sem ressaltar a figura de um de seus mais insignes homens: RUBEM BERTA.

Otto Meyer, precisando de um funcionário, publicou anúncio no jornal. Poucos se apresentaram, pois, além do salário não ser muito atraente, por certo a nova empreitada que se iniciava devia ser olhada como uma atividade sem muito futuro. Mas um moço vigoroso, no dizer de Meyer, chamou-lhe atenção pela disposição que mostrou para desempenhar a função: era RUBEM BERTA, que ali iniciava uma longa caminhada dentro da empresa.

Durante 15 anos, Rubem Berta esteve ao lado de Otto Meyer. Em 1941, com os problemas criados pela guerra e não querendo prejudicar a empresa, dada a sua origem alemã, Meyer renunciou à Presidência. Berta foi eleito para sucedê-lo. Aí, começava uma nova fase na empresa.

Redimensionando as rotas domésticas da VARIG, Rubem Berta se preparava para materializar um grande sonho: voar para o exterior. Em 5 de agosto de 1942, era inaugurada a primeira linha internacional, ligando Porto Alegre a Montevidéu, operando com o avião DRAGON RAPID de Havilland. A partir daí, o parque de aviões foi sempre se modernizando, com a aquisição de Electras, Douglas DC-3 e Curtis Comando C-46.

Após a guerra, Berta deu, seguramente, o passo mais significativo em termos de alcance social em uma empresa privada. Baseado nas premissas da Encíclica Rerum Novarum, criou uma fundação para a qual transferiu a metade de suas ações. Essa fundação, com a morte de Rubem Berta, em 1966, passou a denominar-se Fundação Rubem Berta, em homenagem ao seu idealizador.

Em 1953, como o Governo garantiu à VARIG o direito de voar para Nova Iorque como linha regular, houve necessidade de outra renovação da frota. Foram adquiridos os Super Constellation e Convair 240. Esses vôos possibilitaram à VARIG a criação de um serviço de bordo de alto padrão que se tornaria famoso e que hoje atende, inclusive, quase uma dezena de empresas aéreas. Mais uma vez, a VARIG foi pioneira, introduzindo os jatos no ano de 1959. Foram adquiridos os Caravelles e os Boeing 707.

Em 1961, com a incorporação do Consórcio Real Rodovias, a VARIG voou em direção ao Pacífico, ampliando sua participação nas rotas internacionais. Em 1970, introduziu os jatos em suas rotas domésticas, e, em 1974, chegavam os primeiros "grandes aviões": os DC-10-30, usados no serviço internacional. A VARIG, então, não parou mais... Além de consolidar sua ação no mundo interno e externo, levou a bandeira do País aos quatro cantos do mundo, funcionando seus escritórios como verdadeiras embaixadas do Brasil, onde os brasileiros, em viagem ou não, se encontram para matar as saudades de sua pátria distante.

Esta é a nova VARIG, que se prepara para viver outros 60 anos. De sucesso.

Quero também, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, externar minha opinião num assunto que acho de fundamental importância para o futuro do transporte aéreo do País. Quero-me referir à exclusividade da VARIG nas linhas internacionais. O mercado de transportes de passageiros no mundo todo é, talvez, o mais competitivo. Diariamente, a imprensa vem nos trazer exemplos de empresas que são vendidas antes que se tornem inviáveis, fruto da concorrência demasiada, que se apresenta, até mesmo, hostil ao regime de livre empresa. A VARIG é o Brasil nos céus do mundo. A bem do próprio País, deve ela continuar detentora das linhas internacionais, onde a disputa se fará com outras empresas estrangeiras. A concorrência com empresas brasileiras só é salutar no mercado interno. É um erro de visão imaginar-se que, com mais empresas disputando com a mesma bandeira o mercado internacional, o passageiro será beneficiado. Ao contrário, corre-se o risco de, ao invés do ilusório e passageiro benefício de poucos, trazerem-se prejuízos imensos a uma empresa comercial, e, o que é pior, beneficiarem-se as grandes empresas de aviação internacionais que, certamente, aproveitarão a brecha que se vai abrir. É de se esperar que o Governo brasileiro e mesmo os empresários do setor de aviação dêem-se conta do grave erro que cometem ao defender a abertura das rotas aéreas do exterior para outras empresas.

A VARIG, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, é a resposta viva de que a livre iniciativa, numa economia de mercado, ainda é a melhor solução para a geração e distribuição das riquezas advindas com o trabalho do homem. A VARIG é a prova inegável de que a vontade, o trabalho, a dedicação, o esforço, quando se unem, vencem todas as barreiras. A idéia fácil do patrão-estado pregada por muitos como solução para todas as mazelas do mundo sucumbe diante desta magnífica empresa, cujo proprietário é uma fundação constituída por seus empregados e cuja escolha dos dirigentes substitui o "assembleísmo" inconseqüente, através de um processo de escolha no qual a competência, a dedicação ao trabalho e o tempo de serviço influem mais do que discursos e promessas. Aos que vivem pregando a impossibilidade da existência de um regime de livre iniciativa com dignidade na remuneração do trabalho respondemos com a VARIG, que, ao longo de seus 60 anos de existência, consolida o poder do trabalhador na direção da empresa, demonstrando que a democracia, que só pode ser assegurada tendo um regime de livre iniciativa a lhe sustentar, ainda é a melhor forma de vida para uma nação. Com a VARIG, Sr. Presidente, nós temos a demonstração de que o capitalismo é possível e é bom.

Por tudo isso, é que nos rejubilamos com essa homenagem. Imanamo-nos, todos, augurando que a empresa continue a levar a imagem do Rio Grande e do Brasil aos mais distantes lugares do mundo. Leve daqui, Sr. Diretor, nosso abraço sincero à Direção e aos funcionários da VARIG. Da nossa VARIG. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A seguir, com a palavra, o Ver. Nilton Comin, que falará em nome do PMDB, do PCB e do PSB.

 

O SR. NILTON COMIN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. Este Vereador se inscreveu para falar na homenagem da VARIG. É normal na Casa que os partidos distribuam, nas suas homenagens, aos seus representantes, aqueles que devem cumprir uma missão. No meu Partido, no PMDB, eu me escrevi para falar na homenagem da VARIG. Eu me escolhi orador para falar na homenagem da VARIG. E vou dizer aqui, em poucas palavras, o motivo. É que um fato me une à VARIG, um fato histórico registrado não apenas na Cidade de Porto Alegre, não apenas no Rio Grande do Sul, não apenas no Brasil. É que o meu clube, o Esporte Clube São José, foi o primeiro clube, no Brasil, que fez a primeira viagem no hidroavião Atlântico à Cidade de Pelotas. E eu não poderia, e forma alguma, no próximo mês, quando se completam 60 anos que esta viagem foi feita, faltar nesta homenagem, porque é a homenagem da minha geração, do meu Clube, do Vereador desta Casa à nossa querida VARIG.

Falo, também, representando o Partido Socialista Brasileiro, do ilustre Líder desta Casa, Ver. Werner Becker; falo também representando o Partido Comunista do Brasil, do ilustre e nobre Ver. Lauro Hagemann. Contou aqui o nobre e ilustre Ver. Hermes Dutra, em poucas palavras, a grandiosidade da VARIG, desde o seu fundador, um ilustre piloto, que fora piloto na 1ª Guerra Mundial, ele que fundara a VARIG. Ele citou aqui Rubem Berta, seu primeiro funcionário, e eles, com humildade, faziam os serviços domésticos da VARIG. E, fazendo os serviços domésticos, eles, Hélio Schmidt, atual Presidente da VARIG, todos os senhores, o Sr. ilustre Engenheiro Carlos Willy Engels, Diretor Regional da VARIG, seus funcionários, seus amigos, fizeram da VARIG, uma das maiores empresas de aviação do mundo, selecionada entre as vinte maiores empresas, fruto de trabalho simples, honesto e humilde. É uma demonstração de que se pode fazer no Brasil, e em qualquer recanto desta Pátria, uma grande organização. E, claramente, seu fundador falava na nacionalidade quando criou a VARIG. Quero aqui contar alguns detalhes importantes de uma reportagem que possuo, há mais de 25 anos, feita pelo grande jornalista, infelizmente desaparecido, Prof. Amaro Júnior, em que ele colocou na Folha Esportiva: "Do lombo do cavalo ao avião a jato". No dia 6 de junho de 1927, às 11h15min, o Esporte Clube São José, desta Capital, iniciou uma viagem aérea à Princesa do Sul, a fim de jogar uma partida de futebol com o Esporte Clube Pelotas, embarcando no aeroporto fluvial da Ilha Grande dos Marinheiros, o aparelho, ante os olhos temerosos de grande número de pessoas, centenas de associados "zequinhas", custou a levantar vôo, pois estava com peso em demasia, mas, depois de duas ou três arremetidas, iniciadas com grande velocidade, desde o Saco dos Navegantes, ganhou altura e perdeu-se no horizonte. A bordo iam os intrépidos viandantes, membros da embaixada do São José. Não havia lugar para todos e, assim, dois dos seus integrantes tiveram de vestir macacões de mecânico para viajarem no lugar destinado a carga e combustível. O presidente do clube, temeroso dessa viagem, mandou tirar uma fotografia de cada um. Ele confiava na VARIG, porém tinha medo. A viagem foi realizada. Levou 2 horas e 25 minutos. Pelotas, a grande cidade do Rio Grande do Sul, recebeu em festas. Pessoas na rua; na chegada, automóveis, foguetes espocando. Confetes e serpentinas percorreram com os seus viajantes as principais ruas da Cidade, dirigindo-se, logo após, para campo de futebol. A partida terminou 2x2, mas o mais importante é que o avião tinha que retornar após e o Esporte Clube Pelotas não permitiu e declarou: "Vai ter baile hoje à noite". O baile foi realizado, e o São José, que contratou os serviços da VARIG por dez contos de réis, pagou mais dez contos para que o avião retornasse no outro dia. O São José não conseguiu franquia. Ele pagou na "bucha". Esta viagem relatada pelo ilustre jornalista tem um cunho sentimental, porque a Seleção Brasileira viajava, dois anos, antes, de trem para jogar em Buenos Aires. Então, o Clube de Porto Alegre, o nosso, o meu querido São José, ali ao lado da VARIG, lindeiro da VARIG... Inclusive, muitos torcedores da VARIG, na época, eram do São José, e eu quero aqui, meu caro Engº Carlos Engels, nesta Casa do Povo, dizer a V.Sa. que vamos contratar uma nova viagem, não no hidroavião Atlântico, mas, no próximo campeonato em que o São José for campeão brasileiro, num futuro avião a jato da VARIG, no mais moderno avião a jato que a VARIG tiver, e quero dizer que vamos pagar com fizemos sempre, com a pontualidade antecedente, e que o baile, acredito, será realizado, mas posso dizer que a festa nós vamos fazer na Churrascaria Zequinha, uma das melhores casas de Porto Alegre.

E, para registrar esses 60 anos da VARIG, quero aqui passar às mãos de V.Sa. uma flâmula do meu clube, porque a flâmula que a VARIG possui é o "Sport" com "S", e a flâmula que vou passar às suas mãos é o "Esporte", com "E", e dizer o seguinte: lembro aos amigos presentes que o Guarani de Campinas foi o campeão brasileiro do ano passado. Se eu não estiver nesta Casa, certamente outros homens, como eu, ligados a este Clube irão contratar de V. Sa., ilustre Engenheiro, esta viagem. E o São José, que vai fazer 74 anos, estará, mais uma vez, ao lado da VARIG. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa tem a honra de oferecer a palavra ao Sr. Secretário dos Transportes do Estado do Rio Grande do Sul, Dr. Adão Faraco, representando, neste ato, S.Exa. o Sr. Governador do Estado.

 

O SR. ADÃO FARACO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores. Tenho a honra de representar, neste ato solene, o Sr. Governador do Estado, Dr. Pedro Simon, e este Secretário de Estado, e certamente não outro, em razão das características da Pasta que ocupo, Transportes. Aqui nós estamos comemorando, exatamente, uma efeméride relacionada com transportes: os 60 anos da VARIG. Pois, na palavra dos Srs. Vereadores Hermes Dutra e Nilton Comin, tivemos o relato completo da empresa enquanto empresa, da força econômica que ela expressa e, pelo próprio tempo de vigência, do seu significado na economia nacional, já que transcendeu o Rio Grande e as próprias fronteiras do grande País. Temos idéia do que a VARIG investiu, e eu sei do que pode investir pelo que eu ouvi do seu Presidente outro dia, e os Senhores sabem, também, porque esta é uma das entidades extraordinárias, que mostra o que tem, que divulga o que pretende e que todos acompanham o que ela é. Meu caro amigo Comin, desde os idos tempos da universidade conterrânea, trouxe conotações encantadoras das histórias da História da VARIG, e quem sabe, amigos, quantos de nós podemos contar fatos assim! E eu acrescento um, meu caro Diretor, não com todo aquele caráter pitoresco, mas para mostrar que todos nós, de alguma forma, estamos ligados à VARIG lá na minha Cidade. Acredito que pelos idos de 1946, havia um agente da VARIG disposto a provar que a VARIG era segura, que o avião levantava e chegava, e acabou conquistando meus pais para fazermos uma viagem com a família completa. Tinha que ser com a família completa. O meu velho, e digo com muito afeto, aceitou o desafio e foi. Uma porção de gente foi ao aeroporto para ver sair o avião conosco. Mas destas coisas se faz vida. Desta série de belezas que vimos aqui arroladas se faz o encantamento dos fatos que nós vivemos ou deles tivemos notícia ou, até mesmo, porque se revive aquilo que outros viveram. E se faz da frieza dos números de um balanço ou da história mais rígida, pura e simples, de uma empresa que trata de lucro, e talvez, no lucro, não haja sorriso para buscá-lo, só quando se obtém. Aqui a gente está a sorrir e a fazer com que a efeméride seja mesmo completa, lidando-se com números e com fatos e deles, pela maestria dos oradores, fazendo a poesia da história desta empresa que nos orgulha.

Meus caros Vereadores, sinto-me bem entre vocês porque fui Vereador também, de 1964 a 1968. Depois, intimamente ligado à instituição com Vice-Prefeito, como Secretário e como Prefeito lá, da minha terra, donde vim para esta função de Secretário de Estado. E aqui, a gente olhando para vocês, lembrando do quanto se espera deste ano da Constituinte em curso, em favor do restabelecimento da plenitude das prerrogativas do Legislativo, quer do Legislativo Federal, Estadual e do Municipal, aqui, onde as coisas se dão ao rés-do-chão, no Município, pois bem, neste ambiente de Câmara de Vereadores, é que nós estamos verificando a sensibilidade desses homens, meu caro Presidente, meu caro Diretor, trazendo para cá as comemorações dos 60 anos exatamente porque há sensibilidade dos Srs. Vereadores, através desse corte transversal da sociedade, da opinião pública do Porto Alegre, da opinião pública. Aqui está todo o povo representando, o povo que aplaude a empresa e que nela reconhece todos aqueles valores que a nós encantam. Esta empresa, que aqui vem para ser homenageada e que, antes de receber a homenagem, prestou a homenagem, através desse coral formidável, que também aplaudimos, nisso também corresponde sua história, que também pagou para ver. E quantas vezes. E, como aqui se verificou, pela voz maravilhosa de todos vocês, antes de receber, deu. São alguns princípios que fazem grandes as entidades, e os que a representaram no passado a representam na atualidade, e certamente assim será no futuro, visto que é forte a tradição e que encontra ponto alto nessa Fundação VARIG, hoje Rubem Berta, porque ela, toda de funcionários, é quem - e continua fazendo - garante a grandeza da empresa, num espetáculo quase único de harmonia de trabalho e capital, de disciplina e ordem que valem como exemplos para todos, no Estado, nos Municípios, na União e na economia privada. Exemplo de entendimento entre empregadores e empregados, sem necessidade de chegar a exageros que não correspondem ao melhor, em função de objetivos sociais que todos somos obrigados a preservar. Pela competência, objetividade, seriedade, pela inteligência, somos todos levados a pensar e a refletir na grandeza dessa instituição e, por certo, verdadeiramente podemos tomá-la como exemplo na atividade pública.

Cumprimentos, Sr. Presidente, pela iniciativa da comemoração aqui, na grande sala da Cidade. Cumprimentos ao Sr. Diretor e a todo o corpo funcional da VARIG, todo o corpo técnico, em continuar recebendo homenagens como esta, porque não só orgulha a nós, mas, certamente, orgulha aos Senhores por poderem gozar desse conceito notável no seio da opinião pública rio-grandense. Cumprimentos a todos.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A seguir, temos a honra de passar a palavra ao Sr. Carlos Willy Engels, Diretor Regional da VARIG S.A., que falará em nome da homenageada.

 

O SR. CARLOS WILLY ENGELS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais presentes. Está aqui em Porto Alegre, incrustada para sempre na nossa história e no coração dos gaúchos, a honrosa primazia dos primeiros e decisivos passos da aviação comercial brasileira. Predestinado a feitos que ultrapassam suas fronteiras, o Rio Grande do Sul viu desenvolver-se na década de 20 e se tornar realidade empreendimento tão inédito quão arrojado para uma época que não oferecia condições de esclarecimento para a incipiente e desconhecida atividade do transporte aéreo. Mas Porto Alegre, assim mesmo, não vacilou em receber a semente rara que estava sendo plantada em seu solo, ampará-la e fazê-la vicejar. E foi exatamente o maior dos seus munícipes, pela alta posição hierárquica ocupada, de saudosa memória, Major Alberto Bins, o então anfitrião da "muy leal e valerosa", quem primeiro estendeu sua mão e participou, ativa e desinteressadamente, da implantação da nova empresa, emprestando-lhe o nome honrado, da implantação da nova empresa, emprestando-lhe o nome honrado, sua convicção e seus esforços, como homem de larga visão que era, líder de novos tempos que prenunciavam o futuro e projetavam para a geração por vir o desenvolvimento maior do Município e do Estado.

O lançamento da nova empresa alicerçou-se no sólido e imprescindível apoio da iniciativa privada e num capital de mil contos de réis. Ao redor de 550 acionistas subscreveram ações numa outra iniciativa, espontânea e pioneira - a da importância do capital aberto.

A VARIG nasceu porto-alegrense. E sempre ostentou, com orgulho, o nome do seu Estado, também gravado na sigla que percorre o mundo, símbolo de um - conforme palavras de seu grande Presidente, Rubem Martin Berta -, "patrimônio mais precioso - sua alma -, uma vontade inflexível de vencer, de que são guardiões os homens que trouxeram a empresa até o ponto em que se encontra e respondem pelo compromisso de jamais torná-la um aglomerado de pessoas, mais interessadas em si mesmas do que no progresso da Casa. Nela, todos encontram oportunidade de vencer pela competência, pelo trabalho concentrado e pela lealdade - desde que respeitem a função principal da companhia, que é a utilidade pública, e se prontifiquem a servir, com diligência e dedicação, os interesses do País".

Esses homens são hoje o Grupo VARIG. Com uma receita de cerca de 1 bilhão e 400 milhões de dólares em 1985 e com um contingente de aproximadamente 30.000 empregados, forma uma grande família ao redor de 120.000 pessoas. O Grupo VARIG é composto, atualmente, por 22 empresas, sendo uma controladora - Fundação Rubem Berta -, uma empresa líder, a própria VARIG S.A. -, 18 empresas subsidiárias (com o controle acionário direto ou indireto da FUNDAÇÃO RUBEM BERTA) e duas empresas coligadas. Representando um real e eficiente instrumento da política aeronáutica do País, levando a presença da bandeira brasileira aos aeroportos internacionais de cinco continentes, a VARIG também desempenha um grande e importante papel na promoção e divulgação do Brasil no exterior através de suas 40 agências e mais de 88 escritórios espalhados pelo mundo afora. E é permanente seu esforço no sentido de desenvolver, cada vez mais, o tráfego turístico e comercial para o Brasil, colocando sempre em primeiro lugar os interesses do País e, depois, a venda dos seus serviços.

Em acréscimo à recente homenagem com a inauguração do Largo Rubem Berta junto à nossa base técnica do antigo Aeroporto São João, de iniciativa do Executivo Municipal e com o apoio dessa colenda Câmara, neste momento em que somos agraciados com esta honrosa distinção, apresentamos o agradecimento muito amplo dos milhares de funcionários da "Pioneira", orgulhosos e sumamente reconhecidos ao gesto dos seus dignos representantes nesta Casa.

Pediria licença ao Presidente agora para fazer a entrega de uma lembrança. Trata-se de uma maquete do avião Atlântico, que temos o prazer de deixar nesta Casa.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

(Faz a entrega ao Presidente, Ver. Brochado da Rocha.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Na qualidade de Presidente desta Casa, cabe-me, em primeiro lugar, dizer que, evidentemente, esta Cidade, este Estado ficou muito pequeno para o desenvolvimento e grandeza da Casa. Não teria eu possibilidade de discorrer sobre a VARIG porque teria que percorrer os caminhos da história de seis décadas do Rio Grande, teria que incorrer sobre o caminho da viação comercial no Brasil e no mundo. Teria eu, enfim, que registrar, com bastante reflexão, os tempos de pujança do Rio Grande e os tempos difíceis em que vivemos. A nossa expectativa é que empreendimentos como este possam repetir-se no Rio Grande do Sul, mas ciente, rigorosamente ciente, de que o Rio Grande do Sul e de que Porto Alegre, hoje, apenas servem de moldura para a grandeza da VARIG. Hoje ela representa o País em todo o mundo e ela, por si só, é quase uma bandeira.

Os senhores funcionários da VARIG, na sua dedicação e no seu trabalho, antes de qualquer coisa, levam ao exterior a imagem do Brasil que nós desejaríamos que fosse. Por tudo isso, tenho que ser rigorosamente breve, eis que a história dos senhores, certamente, não caberia dentro deste Plenário ou nos Anais desta Casa. Mas somos cientes de que, como moldura da VARIG, repito, somos profundamente orgulhosos. Levamos e cultivamos este orgulho. Se de um lado o gaúcho é profundamente vinculado ao cavalo, posso garantir a V.Sas. e aos senhores funcionários da VARIG que nós somos profundamente orgulhosos dos aparelhos da VARIG. Sob o comando firme de V.Sas., rasgam os céus do mundo, levando o nome Viação Aérea Rio-Grandense.

É um orgulho, e esta Sessão requerida pelo Ver. Hermes Dutra e aprovada por unanimidade nesta Casa certamente traduz o nosso orgulho e a nossa satisfação.

Quero agradecer o mimo oferecido à Câmara Municipal de Porto Alegre, que nos possibilitará oferecer e mostrar uma das bandeiras do Rio Grande do Sul, e somos gratos a isso. Para encerrar, Sr. Diretor Regional da VARIG, certamente não é a formalidade que reúne seletas pessoas nesta Casa, no dia de hoje. Somos daqueles que cultivamos a nossa História e somos, repetindo e repetindo, sempre orgulhosos do empreendimento que V.Sa., neste momento, representa. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

(A seguir, é feita nova apresentação do Coral Ícaro.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, agradeço a presença de todos e convoco os Srs. Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 17h50min.)

 

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